Tiago Domingues
Doutorando em Engenharia Química e Ambiental na Yale University (USA)
Descreva sua formação desde o inicio da graduação
Fiz ensino médio técnico em biotecnologia, e para permanecer na mesma área, decidi que prestaria vestibular para química ou biologia. Gostava de matemática no ensino médio, mas não era a minha disciplina favorita. Passei para engenharia química na UFRJ, mas meu interesse por química diminuiu com o passar do tempo. Em contrapartida, eu tive facilidade e gosto pelas disciplinas de cálculo. Por conselho do professor Samuel Senti, que foi meu professor de cálculo na época, procurei cursar disciplinas do programa especial em matemática (PEM), oferecidas pelo departamento de matemática aplicada, e daí em diante, todo o semestre eu cursava ao menos uma disciplina no departamento. Durante a graduação fiz iniciação científica num laboratório de química computacional, uma área com um importante componente de matemática, e tive a oportunidade de fazer intercâmbio através do antigo programa ciência sem fronteiras na universidade de Minnesota nos EUA. Concluí minha graduação em engenharia, mas fiz diversas disciplinas do mestrado em matemática como eletivas, e segui para o mestrado em matemática aplicada, na área de equações diferenciais parciais. Após o mestrado, fui professor substituto na UFRJ por um ano e meio no departamento de matemática aplicada antes de ingressar no doutorado.
Como o bacharelado em Matemática Aplicada da UFRJ foi fundamental pra tua formação?
Embora não tenha feito Bacharelado em matemática aplicada, me surpreendeu o ambiente cultivado pelo departamento. Muito mais do que no meu departamento de origem, senti que quando eu ia para a sala de estudos da matemática aplicada (ABC-116), eu estava cercado de colegas interessados e gente empolgada pelo que fazia. Esse ambiente me “puxava pra cima”, me incentivando a estudar coisas novas, e certamente colaborou no meu desenvolvimento profissional, além de ter me proporcionado boas amizades. Também acho boa a estrutura do curso, que sendo mais flexível que cursos clássicos de engenharia, permite que o aluno tenha mais espaço pra conhecer diferentes aplicações do que ele aprende através de disciplinas eletivas e iniciações científicas. A formação que eu tive no departamento de matemática aplicada, somando graduação e mestrado, foi determinante para que eu decidisse seguir carreira acadêmica na área onde estou hoje, mudando o meu rumo da biotecnologia para modelagem matemática, e tem sido importantíssima nos meus projetos de pesquisa atuais. Recomendo a todos que gostarem de matemática e estiverem na UFRJ, não percam a oportunidade de cursar pelo menos um cálculo infinitesimal com o Acker ou um curso de análise 2 com o César Niche!
Como a matemática e conhecimentos mais quantitativos são vistos na tua area de atuação?
Minha pesquisa envolve simulações computacionais que geram grandes quantidades de dados, que precisam ser processados a fim de avaliar se uma determinada molécula é uma boa candidata para alguma aplicação industrial. Ter uma boa base matemática permite que eu entenda melhor o funcionamento de cada método e consiga eventualmente propor soluções novas ou mais eficientes para alguns problemas, em vez de ser apenas usuário dos métodos existentes. Portanto minha formação é valorizada, e foi instrumental para que eu conquistasse a vaga no doutorado onde estou hoje com bolsa plena. Mesmo aqui, eu eventualmente sou consultado por colegas de laboratório quando surgem dúvidas específicas de matemática.